No universo contábil, a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) faz parte do dia a dia de qualquer contador. Entretanto, para quem está começando um negócio, a sigla pode ser desconhecida e isso é perfeitamente normal. 

Essa demonstração é um relatório que apresenta, de forma resumida, as operações que a empresa fez, com a apuração das receitas, despesas, custos, investimentos e provisões, demonstrando a formação do resultado líquido do negócio em determinado período. Ter essa visão do todo contribui para o controle financeiro do negócio.

Para cumprir finalidades legais, a DRE precisa ser apresentada pelas empresas brasileiras anualmente, mas também é de costume fazer DREs mensais simplificadas para controle administrativo, bem como trimestrais, para monitorar de perto os gastos fiscais.

Vamos entender mais?

 

O que é uma DRE e para que serve

 

Existe um pronunciamento técnico que estabelece como deve ser estruturada uma DRE, definido pelo CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Ele foi criado em 2005, por meio de diversas entidades, entre elas o Conselho Federal de Contabilidade. 

Esse comitê serve para orientar sobre a emissão de documentos técnicos e para informar sobre procedimentos de contabilidade, a fim de centralizar as normas contábeis brasileiras, para que elas sejam assemelhadas aos padrões internacionais. No caso da emissão de uma DRE, o pronunciamento técnico que dá a orientação é o CPC 26, que diz o seguinte:

“As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da atuação da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão diligente dos recursos que lhe foram confiados.”

Trocando em miúdos, a DRE tem o objetivo de fornecer uma demonstração financeira da empresa, com os dados básicos e essenciais da formação do resultado de lucro ou prejuízo do exercício, seja ele mensal, bimestral, trimestral, semestral ou anual, proporcionando uma melhor gestão financeira.

Isso torna esse um dos relatórios mais importantes de um negócio, pois deve ser utilizado pelos gestores, investidores, bancos e até mesmo pelo governo. Sua importância está em avaliar a capacidade de uma empresa, bem como sua real situação. 

Não há como tomar decisões sem ter em mãos uma DRE. Quando elaborada corretamente, ela é uma ferramenta que permite que você tenha uma visão geral do resultado financeiro do negócio, com dados muito relevantes. 

Por exemplo, é nesse documento que você encontrará o montante das despesas gerais da empresa, a receita total de vendas, a composição dos custos de produtos e serviços, o lucro que a empresa teve com as operações, os impostos que incidiram sobre os produtos e até mesmo o nível de endividamento da empresa. Assim, pode decidir quais estratégias adotar a cada momento.

Portanto, apesar de ser, sim, uma obrigação contábil que deve ser entregue todos os anos, a DRE não deve ser usada apenas para esse fim, pois também é uma ótima aliada para uma boa gestão estratégica do negócio, bem como para garantir uma governança corporativa de sucesso. 

Afinal, você poderá analisar de maneira crítica os números demonstrados, determinando a eficiência das práticas adotadas pelo negócio e ajustando o que for necessário para evitar prejuízos.

 

Como é a estrutura da DRE

Mas você deve estar se perguntando o que precisa ter em uma DRE, não é mesmo? Como citamos, a entrega anual da DRE é obrigatória para as empresas brasileiras, segundo a Lei N° 11.638/07, publicada em 27 de dezembro de 2007. Basicamente, sua estrutura será a seguinte:

 

Receita Bruta

– Deduções

= Receita líquida

– Custo da Mercadoria Vendida (CMV) ou Custo dos Produtos Vendidos (CPV) 

= Lucro bruto

– Despesas com vendas

– Despesas administrativas

– Despesas financeiras

= Resultado operacional líquido

– Despesas extra operacionais

= Resultado antes do IRPJ e da CSLL

– Provisões do IRPJ e da CSLL

= Resultado líquido

 

Além desses dados, quanto mais informações você puder inserir no documento, mais próximo do dia a dia ele vai estar. Ou seja, quanto mais amplo seu escopo for, mais visão você terá. Assim, lembre-se de incluir:

 

1. Receita de vendas

Informe toda a entrada de dinheiro no caixa ou no patrimônio da empresa, como a receita de vendas de produtos, de prestação de serviços, royalties, recebimento de juros e dividendos.

 

2. Receita líquida

A receita líquida é representada pelo resultado das receitas de vendas subtraindo as deduções de impostos e abatimentos.

 

3. Deduções de impostos e abatimentos

Aqui entram devoluções de vendas, descontos oferecidos e abatimentos de impostos que incidem de forma direta sobre a venda, como ISS, ICMS etc.

 

4. Custo de venda

O CPV ou CMV e o CSP (Custo dos Serviços Prestados) apresentam os gastos com a fabricação de um produto ou com a preparação de um serviço. São os valores gastos com matéria-prima, logística etc.

 

5. Lucro bruto

A diferença entre a receita líquida e o gasto na produção é o seu lucro bruto.

 

6. Despesas com vendas

São todos os gastos com custos de pós-venda e comissões.

 

7. Despesas administrativas

Também conhecidas como despesas fixas, elas representam os gastos para manter a empresa funcionando, existindo vendas ou não. São exemplos as contas de água, luz, aluguel, telefone, internet etc.

 

8. Despesas financeiras

Empresas que operam com com importação e exportação precisam incluir as variações cambiais como despesas financeiras. As demais, devem incluir multas e juros que a empresa tenha que pagar.

 

9. IRPJ e CSLL

Essas despesas merecem um tópico especial. São, respectivamente, o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Ambos são impostos cobrados sobre o faturamento.

 

10. Resultado antes do IRPJ e CSLL

Também é importante informar o resultado total desconsiderando o impacto dos tributos sobre o faturamento.

 

11. Resultado líquido

Por fim, é necessário incluir também o resultado líquido, ou seja, o resultado final obtido a partir da subtração dos impostos e taxas pagos no lucro bruto. 

É o valor que representa o resultado de uma empresa, considerando os ganhos e descontos do período analisado. Por essa razão, esse número é bem relevante para realizar investimentos, empréstimos ou divisão entre sócios, funcionários e acionistas, se existirem.

 

Como fazer a DRE passo a passo


Agora que você já sabe a importância e quais os itens essenciais de uma Demonstração do Resultado do Exercício, vamos visualizar um passo a passo de como fazer a sua?

Ainda antes, gostaríamos de lembrar que existe diferença entre DRE e balanço patrimonial, que são duas ferramentas que costumam ser confundidas. A verdade é que as duas são importantes para qualquer empresa, mas a DRE auxilia na análise do balanço patrimonial.

O balanço é uma espécie de conferência de todos os itens, enquanto a DRE é um levantamento das despesas e receitas, o que a deixa bem mais próxima da rotina da empresa. Já que no balanço aparecem todas as receitas que deverão entrar, é possível analisar a DRE e comparar não só o que realmente aconteceu em determinados períodos, como também entender qual é a condição da empresa para os próximos meses.

Com isso em mente, vamos ao passo a passo para uma DRE bem estruturada!

 

1. Organize a estrutura

A estrutura, como você já sabe, contém os itens do nosso tópico anterior. Tenha como base os dados financeiros do negócio, abrangendo as receitas e gastos. Todos os dados gerenciais e contábeis precisam ser incluídos, sempre observando o regime da competência, ou seja, levando em conta uma mesma data.

 

2. Determine a receita líquida

Como explicamos, a receita líquida é a receita das vendas menos as deduções de impostos e abatimentos. Assim, sempre use a fórmula:

Receita líquida = Receita bruta – Deduções da receita bruta.

Lembrando que a receita bruta é composta pela venda de produtos + venda de mercadorias + prestações de serviços, enquanto as deduções envolvem devoluções de vendas + abatimentos + contribuições incidentes sobre vendas + impostos.

 

3. Encontre o resultado bruto

Deduza da receita líquida o custo das mercadorias e dos serviços vendidos, pois:

Resultado bruto = Receita líquida – Custo das vendas.

 

4. Analise o resultado antes do IRPJ e da CSLL

Subtraia do lucro bruto todas as despesas operacionais, financeiras e administrativas. Aqui a fórmula é a seguinte:

Resultado antes do IRPJ e CSLL = Resultado bruto – Gastos operacionais – Gastos financeiros líquidos – Outras receitas e despesas.

 

5. Cheque o lucro líquido

Retomando, você só conhece o lucro ou prejuízo líquido antes das participações, ou seja, é necessário subtrair a provisão para IRPJ e CSLL do resultado antes do IR e da CSLL, assim:

Lucro líquido = Resultado antes do IRPJ e da CSLL – Provisão para IRPJ e CSLL.

 

6. Descubra o resultado do exercício

Dessa forma, você chega ao resultado esperado da DRE, afinal, o objetivo de toda a Demonstração do Resultado do Exercício é chegar ao lucro líquido do exercício. 

Para isso, basta somar ou diminuir os resultados não operacionais, ou seja, as participações de funcionários, gestores, partes beneficiárias e afins. A fórmula aqui fica assim:

Resultado líquido do exercício = Lucro líquido antes das participações – Resultados não operacionais.

 

Como é utilizar a DRE

Depois de montar e determinar todos os valores da DRE, é essencial saber analisar os dados encontrados.

Para utilizar a DRE na gestão da sua empresa, você pode adotar algumas técnicas, conhecidas como análise vertical e análise horizontal. 

 

Análise horizontal

Na análise horizontal, você vai compreender o desenvolvimento tanto dos gastos quanto dos ganhos, que é quando é possível analisar as receitas e as despesas momentaneamente.

Isso porque conforme o tempo passa, os saldos dos demonstrativos contábeis apresentam uma variação. É essa variação que aponta se a sua empresa está crescendo, se mantendo em um patamar ou mesmo reduzindo os resultados.

Nesse estudo, é feita a comparação dos resultados para os mesmos itens, considerando exercícios ou períodos diferentes. 

Por exemplo, vamos supor que você queira saber se um produto está sendo lucrativo ou se não vale investir em melhorias e manter as vendas. Para isso, a análise horizontal dirá se existe potencial de mercado ou não, segundo a incidência de impostos e os resultados das vendas.

 

Análise vertical

Na análise vertical, podem ser feitas comparações de contas conforme o grupo. É quando se pode entender o impacto de uma despesa no total, encontrar tendências e fazer projeções que vão auxiliar o seu negócio como um todo.

Isso acontece por ser um estudo que busca relacionar um elemento da DRE com a categoria que integra. Pensando no exemplo citado, é possível comparar os resultados financeiros de um produto específico com os resultados de outros, sejam eles similares ou não.

Realizar a leitura correta da sua DRE fará com que você sempre consiga enxergar a real situação da sua empresa com precisão e praticidade. Quando precisar tomar decisões, como investir ou não investir, demitir ou não demitir, expandir ou não expandir, você fará suas escolhas baseadas em dados confiáveis. 

Empresas que erram no momento de cortar gastos com algo específico ou para definir se é a hora certa de usar o lucro para investir ainda mais, podem fracassar e até mesmo decretar falência. É por essa razão que a DRE se encontra entre os pronunciamentos técnicos da contabilidade, pois é essencial para qualquer negócio que queira prosperar.

 

Quais são os indicadores da DRE

As informações da DRE também permitem calcular diversos indicadores financeiros importantes, que vão tornar a análise do negócio ainda mais completa. Alguns exemplos são:

 

Margem de lucro líquida

É a margem que representa a margem de lucro real do negócio, com todas as despesas e impostos reduzidos:

Margem líquida = Lucro líquido ÷ Receita líquida.

 

Margem operacional

É o indicador que determina a eficiência operacional do negócio, encontrada por:

Margem operacional = Lucro operacional ÷ Receita líquida.

Lembrando que o lucro operacional é o lucro bruto da DRE.

 

EBITDA

Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, em tradução livre, “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”. Indica a realidade financeira de empresas de capital aberto.

É um indicador importante para que investidores possam definir em qual negócio investir, assim:

EBITDA = Lucro operacional antes do IRPJ e da CSLL + Depreciações + Amortizações.

Um relatório essencial como a DRE não pode faltar na sua empresa. Melhor ainda se puder ser mais facilmente calculado e gerado, com ajuda de uma ferramenta capaz automatizar a geração de relatórios, contribuindo para o sucesso do seu controle financeiro!